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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Crônica: "Os Antissociais"


"Os Antissociais" de Juliano Martinz

Parte I:
– Alô?
– E aí?
– Fala, grande.
– Que tá fazendo?
– Nada. Debaixo das cobertas.
– Hum. Sei.
– E você?
– Na mesma.
– Um saco, hein!
– Pois é. Liguei pra isso.
– Isso o que?
– Ah, sei lá. Tédio dos infernos.
– Pra variar né?
– Vontade acabar com isso tudo.
– Vai se matar?
– Não, anta. Vontade acabar com esse tédio.
– Vá ler um livro.
– Outro?
– É, um saco!
– E como! Já foram três essa semana!
– Putz.
– Tá afim de sair?
– Nem. Pra onde?
– A festa da facul.
– Ah, nem vou. Tô debaixo das cobertas.
– Só sair daí.
– Nem… Só saio daqui amanhã cedo.
– Eu tô afim de ir.
– Você vai?
– Não disse que vou. Disse que estou afim.
– Mas você vai?
– Ah, sei lá.
– Fazer o que lá, cara?
– Fazer o que aqui?
– Vá ler um livro.
– Putz… Você não se incomoda com isso, cara?
– Isso o quê?
– Ficar dias e dias enfiado nesse quarto. Você é um ser humano ou uma ameba?
– Ó quem fala.
– É disso que estou falando.
– Eu não sou uma ameba.
– Amebas são mais sociáveis, isso sim.
– São?
– Devem ser. São mais populares que nós, pelo menos.
– Se são. Você vai?
– Pensando. Dá medo.
– E eu não sei?
– Vai ter gente estranha pra cacete lá.
– Muita gente, isso sim.
– E estranha.
– E como! Você vai?
– Se você for, eu vou.
– Eu não vou.
– Por que não?
– Nem a pau. Muita gente. Gente estranha.
– A gente se enturma.
– Certeza?
– Bom, acho que não. Mas a gente tenta, pelo menos.
– A gente tentou ano passado, lembra?
– É.
– No que deu?
– Sujeira.
– Nem isso. Não deu foi em nada, isso sim.
– É.
– Os dois largadões lá no meio sem saber o que fazer.
– É.
– Olhando um para a cara do outro. No mesmo lugar durante duas horas.
– Se ao menos a gente soubesse dançar.
– E quem ia querer dançar com a gente?
– Pior. Fiascaço.
– E como!
– Melhor deixar essa ideia pra lá, né?
– Melhor mesmo.
– Mas, o que eu faço nessa porcaria de sábado?
– Ah, sei lá. Faça o mesmo que eu.
– OK.

Desligou, e foi ler um livro.
Um saco!

Parte II:

– E aí?
– E aí?
– Fazendo?
– Nada.
– Também.
– Vai sair?
– Nem. Cansado pra burro.
– O que fez?
– Ah, sei lá. Fiz nada, não.
– Então tá cansado do quê?
– Sei lá. Dessa paradeira, deve ser.
– Então por que não sai?
– Porque tô cansado.
– Então sai que descansa.
– Ninguém sai pra descansar.
– Então fica em casa, caramba.
– Pô, mas isso cansa pra burro.
– Cara, tu fala umas coisas nada a ver.
– Tipo…?
– Tá cansado, mas não fez nada.
– E isso não cansa?
– Então descansa.
– E o que tô fazendo?
– Então não reclama.
– Quem tá reclamando?
– Tá, deixa quieto.
– E você? Vai sair?
– Nem.
– Por que?
– Ah, você me cansou.

Parte III:

– Alô.
– E aí!?
– Fala. Belê?
– Opa. Fazendo?
– Nada. Quartão escuro.
– Abre as janelas, pô.
– Nem. Mó calor lá fora. Se abrir a janela, ele entra.
– Pior.
– E você, tá fazendo o quê?
– Nada. Só aqui no papo com minha namorada.
– Quê?
– Minha namorada virtual.
– Eita, e nem me fala nada!?
– Ah, conheci ela hoje.
– Danadão. De onde ela é?
– Sei lá.
– Não sabe onde ela mora?
– Sei lá. Mora por aí, nesses cantos.
– Conheceu como?
– Ah, sabe como é. Nos Faces da vida. Únicos lugares onde eu consigo conversar.
– Massa.
– Mas tá batendo mó medão.
– Por quê?
– Ela falou que quer me conhecer pessoalmente.
– E…?
– Ah, complicado, né cara? Sair de casa, ir pra balada, cinema, monte de gente, essas coisas. Não me dou bem nesse meio. Você sabe.
– Não devia arrumar namorada então.
– Por isso arrumei uma virtual. Mas era pra ficar só nisso. Ela lá, eu cá. Daí vem a doida e começa a complicar a relação.
– Vai enrolando, oras.
– Sei lá, acho que está na hora de encarar meus problemas.
– Tipo…?
– Sei lá. Cansei de ser dominado pelo medo, de ser só um fantoche na mão da sociedade.
– Eita, tô te estranhando.
– Sério. Vou resolver isto agora.
– Vai fazer o quê?… Ow… Cadê você?
– Voltei. Pronto, resolvi tudo.
– Sério? Marcou encontro com ela?
– Não. Terminei o namoro

4 comentários:

  1. Diferente de contos, fábulas e demais gêneros literários, a crônica busca estar o mais próximo da realidade, pois se trata de uma narrativa que serve para abordar assuntos do cotidiano. É escrita em estilo pessoal, e o autor tem total liberdade para se expressar, não precisando se apegar as regras ou normas. Apresentam uma linguagem simples, e por tratar-se do nosso dia a dia, conseguimos interagir com a mesma, pois muitas vezes nos identificamos com as ações tomadas pelas personagens.
    A crônica “Os Antissociais” de Juliano Martinz, dividida em três partes de diferentes situações, é um bom exemplo dessa “conexão”. É incrível como este diálogo traduz uma conversa que poderia ser – ou se já não foi – de qualquer um de nós. Também podemos observar uma crítica implícita, à vista que, as personagens apresentam características bastante comuns presentes na geração atual. Transtornos depressivos e ansiosos, insegurança e demais conflitos pessoais, são, infelizmente, usuais em nossa sociedade. Vale ressaltar que, com o avanço da tecnologia, vemos que os jovens estão cada dia mais dependentes da internet, e diante disso, estamos vivendo em uma geração assombrada pelo isolamento, problemas de privacidade, concentração, autoestima, insônia e diversos outros casos.
    Em suma, podemos dizer que a crônica é uma forma de arte altamente pessoal, pois ela é o olhar de um escritor perante um fato do cotidiano, e tem como um de seus objetivos, criar um laço de familiaridade entre o autor e o leitor.


    – Wanda Paola Dionizio de Melo.

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  2. Crônica é uma narração curta que consiste em transmitir ou ainda expressar argumentos relacionados aos problemas da sociedade. Há distinção entre elas, ou seja, apresentam ramificações totalmente variadas, por exemplo, crônicas históricas, descritivas, narrativas, jornalista, poética, etc. Diferente do poema que segue certo padrão, a crônica tem como função de narrar livremente os fatos ou acontecimentos da vida em relação à sociedade com poucos personagens identificados, seu início narra uma situação do dia a dia.
    A crônica "Os antissociais" de Juliano Martinz, está baseada em um diálogo/conversa direta sem apresentar entre linhas esquemas de rimas. Daí então, a obra tem como objetivo de alertar a sociedade sobre o problema que está sendo muito freqüente, neste caso, o comportamento antissocial. Ter esse comportamento priva o indivíduo de conhecer outras novas oportunidades e pode, na maior das vezes, levar o mesmo a cometer crimes sérios ou até infrações de natureza leves, como o desrespeito e bullying, que traz uma imagem negativa para a sociedade.
    Em virtude dos fatos mencionados, a crônica é de fácil compreensão com o objetivo principal de transmitir na maioria das vezes a relação entre indivíduo e sociedade e os problemas que são frequentes no dia a dia. Assim, a crônica não tem como obrigação atingir um público alvo, pois apresentam formas distintas uma da outra.

    –Márcio da Silva Lira

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  3. A crônica retrata a dificuldade das pessoas de se relacionarem fora das redes sociais virtuais, e mostra o medo que os indivíduos sentem de socializarem na vida real. Assim gerando um massa de pessoas hiper conectadas virtualmente e desconectadas da realidade por medo, comodismo e total incapacidade de interação real, uma eterna geração de zero e um sem coração, sem calor humano, e sem emoções.

    Emilly Carolina Héstia Sobral de Melo.

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  4. A crônica é o principal texto da literatura contemporânea, é uma forma textual no estilo de narração que tem por base o que acontece em nosso cotidiano, chamamos de cotidiano aquilo que acontece diariamente e é comum todos os dias, a crônica apresenta um texto curto e de linguagem simples, o que o torna acessível a todo tipo de leitor, onde temos como característica da crônica: Narração curta, descreve fatos do cotidiano, podendo ter carácter humorístico, irônico, segue um tempo cronológico determinado e uso da oralidade nas falas dos personagens.
    Na crônica "Os Antissociais", mostra um diálogo entre dois jovens, aparentemente introvertidos/isolados, através de um aparelho, onde eles dialogam a respeito do tédio de se estar em casa e ao mesmo tempo o medo de saírem, pelo fato de não saberem se relacionar com as demais pessoas de um determinado ambiente. Os jovens mostram durante a conversa, uma grande dificuldade de se comunicar, que só conseguem se comunicar com outras pessoas, através de redes sociais, como um deles cita o facebook, um meio de comunicação para se manter um contato virtual.
    Eles demonstram que sentem um enorme medo de se socializarem com a sociedade, onde acabam se privando de fazerem varias coisas; apenas ficam isolados em "seus" mundos virtuais, que acaba gerando alguns problemas, como: o vicio da internet e de aparelhos, que os tornam dependente do mesmo, se privando até mesmo de sentimentos, como o amor e companheirismo, podendo se tornar assim uma pessoa fria, por não ter tido algum contato físico pessoal até mesmo da família.
    Muitos se isolam desta forma com medo da sociedade, medo de ser rejeitado ou excluído, por seu jeito de agir ou pensar ser diferente dos demais; por isto muitos optam pelo isolamento do mundo externo.


    - Robiélton josé da silva

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